sábado, 7 de setembro de 2024

JORNAL DE ARCOVERDE: QUAL FOI O BERÇO DE ARCOVERDE?


JORNAL DE ARCOVERDE
MARÇO/ABRIL DE 2011
Nº 260 / PÁG. 3
*PEDRO SALVIANO FILHO
Em janeiro deste ano tivemos um novo encontro de confraternização entre os inseparáveis amigos de infância de Arcoverde: eu, o José Carlos e o Antônio Estanislau. No tempo da Faculdade, em Recife, pensamos em fazer isso todo ano, mas nem sempre deu certo. Os primeiros encontros foram feitos no “Magestic Grande Hotel”, do Sr. Sobreira, da nossa querida cidade. Desta vez nos reunimos durante três dias, no Rio de Janeiro.

Entre tantos assuntos que pusemos em dia, eles tiveram a paciência de escutar algumas revelações que faço na minha pesquisa genealógica, inclusive com o auxílio de livros que tenho obtido em sebos eletrônicos.

Em nossas conversas relembramos nossa infância e fatos que ajudam a compreender a história do nascimento de Arcoverde e que achei interessante dividir com os leitores.

Eu nasci na Praça da Bandeira, 33, e depois morei na Praça Barão do Rio Branco (continuação da av. Cel. Antônio Japiassu). O  Antonio Estanislau de Souza Queiróz, nasceu na Rua da Linha (Rua Zeferino Galvão, paralela à Av. Cel. A. Japiassu) e é filho do Sr. Luiz Gonzaga Queiróz, que foi vereador por 16 anos e mora em Arcoverde.  O José Carlos de Lira Fernandes é filho do Sr. Zezé, José Fernandes Filho e foi morador da Rua Leonardo Couto por muitos anos.

E onde nasceu Arcoverde? Em que ruas moraram os primeiros habitantes? E se hoje pudéssemos ver tudo como num filme? Foram essas perguntas que atiçaram nossas discussões. Não tivemos dúvidas sobre isso, pois sabíamos que tudo aconteceu a partir da Rua Leonardo Couto, a rua aonde íamos sempre visitar o Zé Carlos. Faltava apenas encaixar alguns dados dispersos e desconhecidos, pois, quando nascemos, Arcoverde já era uma próspera cidade, mas até 1910 ou 1912 só existia essa mencionada rua na, então, vila Olho d´Água dos Bredos.

Como disse o Luís Wilson no livro MINHA CIDADE, MINHA SAUDADE: “A Rua Leonardo Couto (ou Rua Velha) é a “mãe” de Arcoverde (Rio Branco). O “pai” é o olho d´água da rua Velha, o Riacho do Mel.” Além disso, só existiam algumas poucas casas, registrou ele.

E quem foi Leonardo Pacheco Couto que virou nome de rua? Além de ter sido um dos fundadores da cidade, ele foi o avô do Cardeal Arcoverde, pois Leonardo era pai de Dona Marcolina Dorothéia Pacheco do Couto, esposa de Antônio Francisco de Albuquerque Cavalcanti, o capitão Budá, pais do Cardeal. Uma pequena compilação de escritos muito esclarecedores, do referido autor, sobre a família Leonardo Pacheco Couto e assuntos correlatos, está no link https://cutt.ly/GyZ61Jc

Porém, o Luís Wilson em seu livro MUNICÍPIO DE ARCOVERDE, diz que no Livro das Sessões da Câmara de Cimbres, é que se encontram, para o ano de 1812, as primeiras referências à povoação de Olho d´Água (depois “Olho d´Água dos Bredos”) e, em 1849, há a citação da construção de uma estrada fazendo a ligação com a povoação da vila de Pesqueira. Foi a partir dessa época que o caminho das boiadas (Roteiro do Ipojuca) começou a passar ali. “Ainda em 1925 e até alguns anos mais tarde, era pelo meio da “Rua Grande” ou “Rua do Comércio”, em Rio Branco, que passavam as boiadas que vinham do sertão para Caruaru e o Recife”. A tal Rua Grande, paralela à Rua Velha, virou Av. João Pessoa (1933), depois Cleto Campelo, que depois homenageou o nosso primeiro prefeito, eleito, o Coronel Antônio Japiassu.


Esta foto é de 1932 e mostra a Rua Cleto Campelo (depois Avenida Cel. Antônio Japyassu) que começava no "Beco da Coruja". A casa do Coronel é a primeira à esquerda. Lá embaixo aparece a Rua do Grito que o Dr. Luís Coelho começou a derrubar (entre 1932 e 1933). (Fonte: Roteiro de velhos e grandes sertanejos, vol. 6 – Luís Wilson).

Meu bisavô, Salviano Bezerra Leite de Melo, deve ter chegado à Conceição da Pedra (hoje Pedra) no segundo quartel do século 19, fugindo de uma seca e tocando o seu gadinho desde Cajazeira “do Rio de Peixe”, na Paraíba. Na Pedra, casando com Joaquina Francisca de Sá, tiveram os filhos Maria da Conceição Vieira de Melo – “Sinhara”  (1855), Manoel Salviano Leite de Melo – “Né”, Joaquim Salviano de Albuquerque – “Quinca” (1859-1919) e Francisco Salviano de Melo Lanta – meu avô “Lanta”(1860-1948), nome acrescido, por ele, no final daquele século 19.  Quitéria de Holanda Cavalcanti “Quiterinha” (1869-1952) é outra filha que meu bisavô teve (não detectei ainda o nome da mãe), após a morte da Joaquina. Soube, por informações deixadas por uma tia, que o bisavô Salviano foi sepultado em Umbuzeiro-PB, mas não consegui mais nenhum dado documental a este respeito.

Mas agora me prendo ao Joaquim, para mostrar o entrelaçamento de duas famílias que hoje representam uma frondosa árvore genealógica - enraizada na Pedra, que, mais uma vez, tem os descendentes espalhados em muitos lugares.  Em junho de 1898 Joaquim Salviano se casa (primeiro matrimônio dele) com Maria Rosa de Albuquerque (1854-1908), viúva de Arnau de Holanda Cavalcanti (1850) que já tinha muitos descendentes. Tudo isto está desvendado no site www.lanta.myheritage.com.


Outra sugestão de leitura é o livro “Conceição da Pedra. Um retrato em preto e branco da aristocracia rural do sertão pernambucano” (Recife-PE, 2005) onde meu primo Ricardo Japiassu Simões mostra interessante abordagem sobre as famílias.  Na foto acima presente no livro estão o Capitão Augusto Japiassu, ao centro Joaquim Salviano e à direita o Cel. Antônio Japiassu.

Agora pulo para outro galho da árvore genealógica para mostrar a chegada dos Japiassu à Pedra, em 1906.

Nesta altura é esclarecedor citar que muitos apelidos eram oficializados como nomes em documentos. É o caso de Japiassu que foi acrescentado a Mariano da Costa Araújo, criando um novo tronco familiar. Também lembro que o meu bisavô adotou o seu nome Salviano, como nome de família, para criar um novo tronco. Coisa daquela época...

Os leitores que desejarem se aprofundar sobre os Japiassu da Pedra podem consultar outra interessante e esclarecedora compilação feita em livros do Luís Wilson, no link https://bit.ly/36TRGKc

Entre os filhos do Coronel Mariano da Costa Araújo Japiassu estão a “Dona Babu”, Bárbara Augusta Japiassu, nascida em 1881, que se casa em 1908 com o viúvo, meu tio-avô, Joaquim Salviano de Albuquerque (em segundas núpcias dele), indo morar no sítio Ribeirinha. Conforme os dados da minha pesquisa, transcrevo aquele acontecimento: “Cartório de Registro Civil da Pedra. Certidão de Casamento N. 243, de 23 de setembro de 1908. No sítio Prateado, de Francisco Patriota, município da Pedra, em casa de residência do Coronel Mariano da Costa Araújo Japiassu, às 2 horas da tarde, com presença do juiz deste primeiro Distrito Manoel Tenório da Cunha Cavalcanti, comigo, oficial do registro civil e as testemunhas, Octaviano Octavio Japiassu e Augusto de Araújo Japiassu, recebem em matrimônio Joaquim Salviano de Albuquerque, com 45 anos de idade, filho de Salviano Bezerra Leite e Joaquina Francisca de Sá, natural deste município e residente no mesmo, e Bárbara Augusta Japiassu, solteira com 27 anos de idade, filha legítima do Coronel Mariano da Costa Araújo Japiassu e Izabel Tenório de Araújo, natural de Leopoldina deste estado e residente neste Município. Também assinam Octaviano Octavio Japiassu, com 36 anos de idade, comerciante residente na Vila da Pedra, e Augusto de Araújo Japiassu com 35 anos, criador residente na Vila da Pedra. Neumeriano Gomes de Sá Novaes, oficial efetivo”.

Entre os vários filhos deles, está Izabel Japiassu Salviano – “Biluca”, que nasceu em 1910 e que em dezembro de 1926 se casa com seu primo em primeiro grau, meu tio “Dão” – João Campelo Salviano (1901-1989), filho do meu avô Francisco Lanta. Desse casal “Dão e Biluca”, nasceram meus primos, Getúlio Campelo Salviano, Murilo Campelo Salviano, João Batista Campelo Salviano, Elisabeth Campelo Salviano e Maria Elça Salviano de Oliveira, com muitos descendentes.

Outro filho deles foi Augusto de Araújo Japiassu (1874-1949) que, casado com Rita Rafael Japiassu - “Dona Mocinha” (1885-1941) - teve, entre vários filhos, Maria do Carmo Japiassu – “Carminha” (1909-1992) que se casou com meu outro tio, José Campelo Salviano (1903-1995), que foi prefeito da Pedra (1951-1954). Com apenas uma filha, a minha prima Safira Campelo Brito, tem-se hoje uma profícua descendência (http://www.myheritage.com.br/site-27419231/website-da-familia-britto ).

Ainda do primeiro casamento do Cel. Mariano foi Antonio Japiassu. Ele nasceu em Parnamirim em 1882, e depois foi para Monteiro (PB); passou um tempo em Recife, onde casou, indo depois para Branquinha (AL), retornando à Recife, onde foi comerciante e, em 1906, veio para Pedra onde viveu até 1924, quando se mudou para Rio Branco (Arcoverde). Aqui foi o primeiro prefeito eleito, tomando posse em 15 de novembro de 1928. Ele havia sido um dos líderes do movimento de elevação da vila de Rio Branco à categoria de município do mesmo nome. Caiu com a Revolução de 1930, indo morar, então, em sua Fazenda Tatu por 13 ou 15 anos. Depois vende sua fazenda e vai residir em São Paulo. Após alguns anos vem para Garanhuns, onde fica um ou dois anos. Adoecendo, vai para Recife. Faleceu em 29 de outubro de 1957, após uma cirurgia de vesícula.

Hoje ele é nome da avenida paralela à Rua Velha e também nome do meu antigo Grupo Escolar Cardeal Arcoverde. Estas duas vias, Leonardo Couto e Cel. Antônio Japiassu, são, assim, o berço de Arcoverde.

E, para nossa próxima confraternização, possivelmente em Fortaleza, onde mora o Estanislau, novos questionamentos sobre a nossa cidade natal poderão ser tema de nova e interessante discussão, quem sabe, mais uma rua da nossa história. 

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